quinta-feira, 6 de maio de 2010

Antes eles do que eu!

Um dos piores dilemas do ser humano é ser corno. E digo mais, uma das maiores infelicidades do ser humano é ser corno manso. Essa não é uma questão que está ligada apenas aos relacionamentos afetivos e eu começo citando esse viés da vida humana, porque esse domingo eu vi a personificação dos cornos mansos: os torcedores do Bahia. Acredite que eu também torço pra essa merda, já comprei até uma passadeira de chifres pra desfilar pomposa por aí. O mais engraçado do Bahia é que porque ele foi alguma coisa um dia, em tempos faraônicos, os torcedores acreditam que no futuro o estrume virará adubo. Eu acredito. Tomei no cu por isso. Mas vou contar que eu já avancei de estágio, pulei pra fase do corno que bate na mulher, no primeiro gol perdido virei minhas costas pro televisor e cochilei. Meu orifício anal pra esses filho da putinhas, porra! Essa é a parte da indignação do corno. Você pula ela, está bem? O caso é que de toda parte minha indignação não é com o Bahia. De tanto me foder em um estado só, eu comecei a torcer pra um time em cada estado brasileiro, sabe? Só pra ter opção. Não, não cheguei ao Acre ainda. Inclusão digital tem limite.
A minha grande paixão, na verdade, é o Corinthians que passou longe de ser campeão do Paulistão. Duas decepções é demais pro meu pobre coração entupido de gordura trans. Mas como diz a Lei de Murphy todo ser humano tem potencial pra se foder em alta e se foder da pior maneira possível. E foi enquanto estava deitada em profunda análise do meu azar nas escolhas dos times de futebol que me lembrei de tio Murphy e logo veio a cabeça um episódio clássico da minha vida.
Era um domingo. Final de campeonato baiano e, também, dia das mães. Pra você que não é baiano, ta por fora. Acontece que final de campeonato baiano é sagrado e nessa época era mais sagrado ainda, já que o Vitória só tomava paulada do Bahia. E o Bahia tem uma torcida tão grande quanto a quantidade de filhos que Bob Marley deixou nesse mundão de Deus. Dia de clássico, num típico domingão em família. A patuléia toda unida na casa de praia, ungida por um churrasco esperto, TV na varanda da casa, tudo muito lindo, tudo muito bem. Eu, piveta, de biquininho correndo por todos os cantos da casa, numa euforia imensa.
O instinto de tribo do ser humano é uma coisa impressionante. Tinha uma pá de meninas na casa de uma vizinha no condomínio e é aí que o perigo começa. Eu, uma criança inocente e desprovida de malícia quis me enturmar. Havia meninas cotoquinhas, como eu, mas eu queria andar com as girafinhas. Maldito instinto animal! As meninas decidiram ir ao clube, nessa época não havia piscina na casa e então era uma febre epidêmica de fogo no rabo pra ir nesse tal desse clube. Meu pai colocou a mão na cabeça e profetizou:
- Cuidado com a piscina! Seja cuidadosa.
Eu escutei, mas sabe como é criança pequena. Palavra vira caquinha na hora do vuco vuco. E então partimos felizes e saltitantes rumo ao clube. Chegando lá tudo só melhorou, altos pulos na piscina, brincadeiras e tudo parecia festa. Até que uma das meninas teve a brilhante idéia de caminhar pela borda da piscina brincando de bailarina equilibrista. Bailarina equilibrista de cu é rola, rapá. Qualquer pessoa em sã consciência sabia que aquilo ia dar um fuá imenso, digno de manchete policial. Mas eu era apenas uma criancinha, guiada por instinto. Em resumo: burra pra cacete.
As meninas grandes, desenvolvidas e com alguma coordenação motora passaram pelo desafio. Mas sabe como é, desde essa época eu já era uma Lontra desajeitada, mas meu ego e minha vontade babaca de ter alguma aceitação no grupinho me fez repetir o ato. Resultado? Escorreguei, bati meu joelho na borda da piscina e no maior mode matrix caí dentro da água. Oh, the blood. Era sangue pra todo lado. Por sorte havia uma vizinha no clube que estancou o talho imenso e me levou carregada para casa. Minha mãe só faltou desmaiar, meu pai foi mais frio. Me secou, me vestiu com o uniforme do Bahia completo, e partiu em disparada ao posto de saúde mais próximo de Guarajuba. Minha tia no fundo do carro tentava me consolar, mas era tanta dor que já havia anestesiado. O que doeu foi a porra da anestesia local. Aquilo não é de Deus não. Injeta, costura, sangue; minha mãe tendo queda de pressão. Saldo do domingo: quatro pontos no joelho, um presentão de dia das mães e o Bahia foi campeão baiano. Malandragem, analisando os fatos atuais e comparando com o passado eu chego a conclusão de que, antes eles do que eu. Pode perder mais um campeonato baiano, Bahia. Não quero ter uma crise de apêndice na próxima final.

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