quarta-feira, 12 de maio de 2010

Publicidade de busu.

Esse é um post totalmente leigo. Já tenho um publicitário na família, amigos publicitários e essa definitivamente não é minha vocação espontânea. “E então por que um texto sobre publicidade, Manu?” Foda-se, a porra do blog é minha e eu escrevo o estrume que me der na telha. Não me deu na telha, mas me deu no buzu. Sem duplo sentido, leitor(a) safado(a).
Hoje foi um dia atípico. Pra abrir com chave de ouro esbarrei num alien na entrada do colégio e cinco segundos depois tropecei num paralelepípedo enviado pelo demônio bem na frente do mesmo alien, só pra assumir a carapuça de idiota. Repeti para mim mesma em voz baixa:
- Não é o meu dia, não é o meu dia.
E foi nesse embalo que cheguei ao fim da manhã viva, sabe-se lá como. Cumpri com o resto das minhas obrigações, encontrei Namorado pelos corredores e parti pra casa. São dois ônibus pra chegar na minha favela, ou sair da favela onde eu estou. Ainda não descobri isso. O fato é que tomei o primeiro ônibus, um cobrador gentil, uma viagem tranqüila até a 7 portas. Fiquei tão presa nos meus devaneios que só consegui lembrar que ali era a 7 portas depois de ver uma placa bem grande “HORT-FRUIT 7 PORTAS”. Bang! Saltei, atravessei a rua e esperei caladinha o meu ônibus passar. Uma senhora mirradinha, com uma toalhinha amarela na mão que aparava a tosse meio cansada começou a falar do meu lado:
- É, mas no barbalho passava de cinco em cinco minutos!
E eu balançando minha cabeça positivamente, educadamente apática até perceber que na verdade ela comentava com uma coroa de meia idade um pouco acabada pelo tempo e logo percebi que entre as duas havia alguma ligação. Amigas de bingo, mãe e filha, tia e sobrinha, não importava. Só o fato de que na verdade eu não tinha sido importunada, me fez ver a senhorinha com outros olhos. E então minha mente doentia, tomada pelo transtorno obsessivo compulsivo (manias de segurança, de simetria e todo o resto) me fez perguntar a tal senhorinha:
- Olá! A senhora sabe me dizer se aqui passa ônibus para paralela?
Eu sabia que passava ônibus para a paralela, mas eu quis me certificar pela milésima vez. É como trancar uma porta 2 vezes e voltar pra ver se ela está aberta. É, eu faço isso. Durante a conversa passou um Marback que vem direto pra o Imbuí – meu bairro – mas eu só percebi depois que o ônibus tinha passado. No final das contas peguei meu ônibus para a paralela. Perguntei no ônibus só para me certificar:
- Moço, esse ônibus passa pela paralela?
E o cobrador me olhou com uma cara de cu enrugado, balançando a cabeça. Também não falei mais. Entrei em transe observando os no máximo 30 metros que separavam o ônibus do próximo ponto. E para minha surpresa entra um amigo que não vejo há quase um ano, mas que é queridíssimo, cujo defeito maior é ser palmeirense. Quem agüenta? Me entra ele porta adentro do ônibus com aquela camisa verde fluorescente do Palmeiras, larguei do banco onde eu estava mesmo:
- Mas Palmeirense é uma raça ruim! Até no ônibus essas pestes surgem do além.
Ele riu, sentou num banco atrás de mim e ficamos papeando sobre futebol, sobre as coisas novas em nossas vidas, sobre o fato esquizofrênico de que ele agora joga futebol Americano - é muita vontade de apanhar – e tudo mais. Passando ali pela estação do Iguatemi vem o susto. Entra um broder seco e risonho na pegada do psicopata com uma H2OH na mão.
- Olhaaaaaaaaa! – Gugu feelings. – Essa não é água! É verde, mas é H2OH.
E eu com meus botões pensando na redundância brilhante do carinha que logo me arrancou uma gargalhada do fundo do rim. A figura era piada da cabeça aos pés. Sabiamente ele observou as pessoas no ônibus e veio logo brincar com o broder da camisa verde, o palmeirense, vulgo Mateus.
- E você aí, Framenguista?
- Flamenguista? Porra, sacaneou, viu? – Não deixei barato.
- Porra de flamenguista, rapaz. – Risos compulsivos – Sou flamenguista não!
E o cara da H2OH continuou observando, entupindo quieto a garrafinha gelada queimando a pele.
- O que é raposa? Vai comprar não, raposa? – E o vendedor risonho prosseguiu na tentativa frustrada de vender sua água e descobrir pra que time Mateus torcia.
- Porra de raposa, rapaz. Ta maluco, é? – Perguntou Mateus ainda numa vibe de muitos risos.
Essa era a pergunta que não poderia ser feita. Mas o maluco era bem compreensivo.
- Eu sou Palmeirense... – Complementou o broder malandragem.
- Oxe, é palmeirense! Por isso vai compra comigo... Se Palmeiras é verde, Palmeiras é muito... – As reticências foram algo bem “professor-aluno”, quando o professor espera que o aluno complemente a resposta. O silêncio se estabeleceu e o maluco se voltou pra mim, só tive oportunidade de balbuciar as primeiras palavras que me vieram à mente:
- É muito bom!
- Que nada... É muito esperança! Tudo isso aí é muito esperança!
Estão lendo? Tudo, tudo é muito esperança. E o resto é resto. E então o cara se despediu com um amigável aperto de mão quando percebeu que daquele mato não saia coelho. Eu sinceramente tive vontade de comprar a aguinha do cara, não por dó, mas pela elaboração genial do discurso impensado. Quer dizer, ele entrou, observou o seu público, direcionou o seu foco para quem tinha alguma afinidade com o seu produto – no caso a cor da camisa – e a partir daí despejou argumentos, conversas pra persuadir seu público. Esse cara no auge da sua ignorância soube fazer algo humano. Se eu fosse publicitária, trataria de dar umas voltas de ônibus por Salvador. Propaganda sem a parte humana? Essa, meu amigo... É só mais um folheto empilhado na lixeira.

Um comentário:

  1. É o que eu sempre penso, os caras tem que saber falar quando entram no busu..
    eu mesmo venderia muito bem balas, e afins..
    eu mesmo, sei ver possibilidades em vendas nas pessoas
    acho que essa onda é minha area
    IASHUISAUISHA :D

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