segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Metamorfoseando.

O ronronar rouco do telefone às 12:12 do dia 12 de 2012 rompe o silêncio na sala de estar. O sofá já não está no mesmo lugar em que estava há três anos atrás, a sala antes cheia de sons agora é preenchida pelo silêncio das coisas deixadas para trás, das coisas conquistadas. É preenchida acima de tudo pelo silêncio da reflexão que ela fazia no mesmo sofá já tão velho e gasto pelo tempo... O tempo que lhe trouxe algumas marcas de expressão, o tempo que lhe fez adquirir mágoas e abandonar outras. O telefone continuava insistente ferindo seus ouvidos com seu som baixo e grave, ferindo a sua memória tão afetada pelo ambiente familiar desmontado. O cachorro já não latia, a TV da qual tanto reclamava era nova agora, mas não passava o mesmo jogo de futebol que se passara há três anos quando alguém ocupava a ponta do sofá gasto com comentários tão inúteis que hoje fazem tanto sentido. E os conselhos? Os conselhos daquele ser altivo por entre as cadeiras da sala de estar se apoiando em palavras falhadas e desconexas, se apoiando nas cadeiras, nas palavras, nos conselhos. Se apoiando em previsões. Palavras não eram concretas há três anos, mas hoje? Ah, hoje. Hoje tudo faz sentido. A brincadeira de fazer e não fazer. O esconde-esconde entre o certo e o incerto. Se hoje aquela figura impávida estivesse no mesmo lugar, dando os mesmos conselhos, tudo seria diferente. O telefone ainda tocava compondo o cenário presente enquanto o passado fazia-se vigente. Como um sopro, levantou-se e correu atrás do presente. Atendeu ao telefone. A voz rouca já gasta pela idade fez-lhe lembrar, que mesmo não estando ali a voz a acompanharia por toda a vida. Seja em memórias, seja ao longe. A voz nunca se calará, nuca se silenciará enquanto suas artérias pulsarem com a vibração de um coração sereno que não descobriu a perda. Descobriu a metamorfose do momento. Fechou-se em um casulo e esperou por mais três anos, por mais três vidas. Não tinha forças para lidar com o passado.

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