segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Abortando e adotando convicções.

Eu tenho um grande problema. Eu não consigo terminar tarefas. A maioria das coisas que fiz eu deixei por estar, em banho maria... Esperando acontecer não sei o quê pra não sei o quê lá se concretizar. (Mas é claro que já conclui muitas coisas. É claro.) É preciso fazer um retrocesso a minha vida não muito longa pra entender o porquê de tantos abortos ideológicos. Eu sou a típica menina brasileira, nascida em uma família de religião católica onde os pais são pessoas corretas e dignas de toda admiração. Eu tive uma infância privilegiada regada a salgadinho, banho de chuva e liberdade moderada. (De fato eu nunca quis mais do que a liberdade que eu tinha. Era suficiente e transbordava de modo que eu fui uma criança feliz.) Eu sempre tive boas referências, um pai batalhador, uma mãe que não ficava por menos. Uma avó que luta até hoje, meu orgulho. Bom, mas vamos a mim e as minhas desistências... Como uma criança nascida na religião católica, eu fui batizada – me considero sem padrinho e não tenho o mínimo pudor em falar disso. Já com a minha madrinha eu gozei de um pouco de sorte, é uma boa madrinha da qual não tenho queixas. – fui catequizada, eu ia a igreja e acreditava piamente em todos os ensinamentos católicos. Eu os abortei pelo meio de caminho, não por não acreditar em Deus. Eu ainda sou católica, mas hoje tenho autonomia pra discordar de muita coisa que eu ouço. Bom, eu sempre tive uma veia artística ou semi-isso, meu pai é louco por música, meu irmão é um ótimo baixista (ou era) e minha irmã... Er, minha irmã canta “aêaêaê” e olhe lá. Eu sempre fui afinadinha, daquelas de voz de mosquitinho, sabe? Eu me considero um pernilongo cantando... Mas vamos lá. Eu comecei cedo e fiz coral na UFBA fui solista, já empurrei neguinho pra cantar na frente do coral, quase perdi minhas cordas vocais tentando cantar mais alto do que o coro. O tempo passou e eu abortei a música. Não completamente. Eu ainda canto no chuveiro, faço shows em sala de aula e ainda tenho a paixão pelo canto... Embora eu não deseje ninguém o pavor de me ouvir cantar. Eu já fiz o bom e velho ballet símbolo da frustração da mãe que não o fez... Eu parecia um bolo de casamento naquela roupinha, vide foto:



Sentiu né? Eu pequena, gordinha, batom vermelho. Uma combinação que hoje eu vejo que seria loucura. Abortei o ballet depois da apresentação onde eu fui um grãozinho de areia e por coincidência do destino é justamente com a roupa que estou na foto. A bendita roupa do grãozinho de areia. Isso foi o bastante para adquirir trauma pela dança. Um pouco maior eu descobri o quanto era hábil na arte de interpretar e improvisar – e isso foi utilizado pra escapar de algumas encrencas na época do primário – então investi no teatro. Fiz uma audição, passei e entrei pra um grupo de teatro oriundo do meu colégio, na hora de improvisar era uma beleza... Mas com o texto pronto na mão eu não conseguia ser quadrada e moldada aquilo. Eu tinha mania de extravasar ou me segurar demais. Esse grupo de teatro resultou em uma peça na qual eu fazia parte do elenco, fiquei em cartaz no Jorge Amado e depois de umas doses de sacanagens eu tomei trauma de teatro. Ou seria do grupo de teatro? Eis o mistério. No ano retrasado eu até fiz uma audição para entrar no mesmo grupo e obviamente passei, acontece que não dá pra mim. Olhar na cara de quem me sacaneou e sorrir já é o limite do meu senso de boa vizinhança. Inventei desculpas como carga horária de colégio, notas baixas – que não era o caso – e abortei o teatro. Já fiz curso de modelo e manequim. Mas eu sempre soube que com o meu físico de bolinho de queijo não iria a lugar algum, fui para o campo dos comerciais. Mas abortei o futuro nada promissor de modelo fotográfica. Eu já fiz natação e na hora do campeonato abortei. E foi assim, abortando convicções e adotando novas que cheguei onde estou. Agora me descobri na área de letras, não por escrever bem... Longe de mim. Sim porque eu tenho prazer em escrever, em dividir ideologias, em compartilhar partes de mim. Tenho muito prazer e pouca vergonha em expor o que eu penso. E eu chego ao objetivo desse post, porque eu não quero que esse blog termine como o ballet, a música e a natação. Perdidos em minha memória. (A música nem tanto. Respiro música.) Daí fica um agradecimento aos meus amigos que cobram posts pessoalmente, por MSN... É um estímulo nessa caminhada sem rumo divagando sobre o óbvio e o não tão óbvio. Que eu não aborte a convicção de que expor tudo o que eu penso é recapitular todas as minhas outras desistências e ter a certeza de que é assim que vou reforçando o meu caráter: abortando e adotando convicções.

4 comentários:

  1. Não é aê aê...
    É lá lá lá... KKKKKKKKKKKKk
    Te amo meu bolinho de queijo.

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  2. Mudou o reportório, foi? HUAHUAHUAHA. Tem também aquele seu outro grande sucesso: Na cabeça shampoo. Lave bem o seu... Pé.

    Saudades mil. Amo você, Mãn.

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  3. Imagine quem nunca aborta nada nessa vida. deve ser uma chatice da porra.

    abraço

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  4. Parece até alguém que eu conheço....8) o/

    Se a idéia é ter prazer em escrever, em dividir ideologias, em compartilhar partes de você e expor o que você pensa, talvez seja melhor fazer jornalismo ou filosofia.^^

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