domingo, 21 de fevereiro de 2010

Desabafo.

É um erro não desejar ser ornamental? Estagnar é que eu não quero. Não quero ver as luzes se apagarem e se acenderem, as buzinas cessarem e voltarem ao seu trabalho ensandecido de ensandecer o que há de vivo. Não quero ver as pessoas desembarcando e embarcando, quando sei que posso embarcar. Quando sei que a primeira luz a se acender na cidade pode ser a minha. Não quero ser colossal, imperial, ornamental. É o meu direito de jogar com as cartas que tenho, de bater com uma trinca na vida e não blefar. Cansei de blefes, interesses. Cansei da palavra que se esvai por hora após ser anunciada pela voz rouca e segura, que aparentemente sabe o que diz. Cansei dos tapinhas nas costas, dos sorrisinhos de canto de boca. Por isso abro meu peito e o deixo em carne viva; quem vê meu sangue sabe que é digno da minha possível confiança e da desistência das minhas carícias. Um joguete de possibilidades, na verdade. Aprendi chorando que é bom mesmo chorar. Aprendi sorrindo que é bom mesmo sorrir. Aprendi aprendendo que é bom mesmo aprender. É bom mesmo sangrar, expor a ferida interna e assim dar os méritos expostos. O mérito de quem lhe sorri e o mérito de quem lhe apunha-la. Prossigo a sangrar. Pode ouvir? Os pingos latentes no mármore velho, mármore frio. Frieza da qual estou isenta, por motivos de ventilador. Prossigo a sangrar, prossigo a viver.

3 comentários:

  1. 'Por isso abro meu peito e o deixo em carne viva; quem vê meu sangue sabe que é digno da minha possível confiança e da desistência das minhas carícias'


    eu to assim, já chega desse sentimentalismo superficial, se é pra doer, que doa então. e quem não quiser vê a ferida, não olhe, pq ninguém mais vai escorder.

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