
Sentiu né? Eu pequena, gordinha, batom vermelho. Uma combinação que hoje eu vejo que seria loucura. Abortei o ballet depois da apresentação onde eu fui um grãozinho de areia e por coincidência do destino é justamente com a roupa que estou na foto. A bendita roupa do grãozinho de areia. Isso foi o bastante para adquirir trauma pela dança. Um pouco maior eu descobri o quanto era hábil na arte de interpretar e improvisar – e isso foi utilizado pra escapar de algumas encrencas na época do primário – então investi no teatro. Fiz uma audição, passei e entrei pra um grupo de teatro oriundo do meu colégio, na hora de improvisar era uma beleza... Mas com o texto pronto na mão eu não conseguia ser quadrada e moldada aquilo. Eu tinha mania de extravasar ou me segurar demais. Esse grupo de teatro resultou em uma peça na qual eu fazia parte do elenco, fiquei em cartaz no Jorge Amado e depois de umas doses de sacanagens eu tomei trauma de teatro. Ou seria do grupo de teatro? Eis o mistério. No ano retrasado eu até fiz uma audição para entrar no mesmo grupo e obviamente passei, acontece que não dá pra mim. Olhar na cara de quem me sacaneou e sorrir já é o limite do meu senso de boa vizinhança. Inventei desculpas como carga horária de colégio, notas baixas – que não era o caso – e abortei o teatro. Já fiz curso de modelo e manequim. Mas eu sempre soube que com o meu físico de bolinho de queijo não iria a lugar algum, fui para o campo dos comerciais. Mas abortei o futuro nada promissor de modelo fotográfica. Eu já fiz natação e na hora do campeonato abortei. E foi assim, abortando convicções e adotando novas que cheguei onde estou. Agora me descobri na área de letras, não por escrever bem... Longe de mim. Sim porque eu tenho prazer em escrever, em dividir ideologias, em compartilhar partes de mim. Tenho muito prazer e pouca vergonha em expor o que eu penso. E eu chego ao objetivo desse post, porque eu não quero que esse blog termine como o ballet, a música e a natação. Perdidos em minha memória. (A música nem tanto. Respiro música.) Daí fica um agradecimento aos meus amigos que cobram posts pessoalmente, por MSN... É um estímulo nessa caminhada sem rumo divagando sobre o óbvio e o não tão óbvio. Que eu não aborte a convicção de que expor tudo o que eu penso é recapitular todas as minhas outras desistências e ter a certeza de que é assim que vou reforçando o meu caráter: abortando e adotando convicções.