Eu tenho um grande problema. Eu não consigo terminar tarefas. A maioria das coisas que fiz eu deixei por estar, em banho maria... Esperando acontecer não sei o quê pra não sei o quê lá se concretizar. (Mas é claro que já conclui muitas coisas. É claro.) É preciso fazer um retrocesso a minha vida não muito longa pra entender o porquê de tantos abortos ideológicos. Eu sou a típica menina brasileira, nascida em uma família de religião católica onde os pais são pessoas corretas e dignas de toda admiração. Eu tive uma infância privilegiada regada a salgadinho, banho de chuva e liberdade moderada. (De fato eu nunca quis mais do que a liberdade que eu tinha. Era suficiente e transbordava de modo que eu fui uma criança feliz.) Eu sempre tive boas referências, um pai batalhador, uma mãe que não ficava por menos. Uma avó que luta até hoje, meu orgulho. Bom, mas vamos a mim e as minhas desistências... Como uma criança nascida na religião católica, eu fui batizada – me considero sem padrinho e não tenho o mínimo pudor em falar disso. Já com a minha madrinha eu gozei de um pouco de sorte, é uma boa madrinha da qual não tenho queixas. – fui catequizada, eu ia a igreja e acreditava piamente em todos os ensinamentos católicos. Eu os abortei pelo meio de caminho, não por não acreditar em Deus. Eu ainda sou católica, mas hoje tenho autonomia pra discordar de muita coisa que eu ouço. Bom, eu sempre tive uma veia artística ou semi-isso, meu pai é louco por música, meu irmão é um ótimo baixista (ou era) e minha irmã... Er, minha irmã canta “aêaêaê” e olhe lá. Eu sempre fui afinadinha, daquelas de voz de mosquitinho, sabe? Eu me considero um pernilongo cantando... Mas vamos lá. Eu comecei cedo e fiz coral na UFBA fui solista, já empurrei neguinho pra cantar na frente do coral, quase perdi minhas cordas vocais tentando cantar mais alto do que o coro. O tempo passou e eu abortei a música. Não completamente. Eu ainda canto no chuveiro, faço shows em sala de aula e ainda tenho a paixão pelo canto... Embora eu não deseje ninguém o pavor de me ouvir cantar. Eu já fiz o bom e velho ballet símbolo da frustração da mãe que não o fez... Eu parecia um bolo de casamento naquela roupinha, vide foto:
Sentiu né? Eu pequena, gordinha, batom vermelho. Uma combinação que hoje eu vejo que seria loucura. Abortei o ballet depois da apresentação onde eu fui um grãozinho de areia e por coincidência do destino é justamente com a roupa que estou na foto. A bendita roupa do grãozinho de areia. Isso foi o bastante para adquirir trauma pela dança. Um pouco maior eu descobri o quanto era hábil na arte de interpretar e improvisar – e isso foi utilizado pra escapar de algumas encrencas na época do primário – então investi no teatro. Fiz uma audição, passei e entrei pra um grupo de teatro oriundo do meu colégio, na hora de improvisar era uma beleza... Mas com o texto pronto na mão eu não conseguia ser quadrada e moldada aquilo. Eu tinha mania de extravasar ou me segurar demais. Esse grupo de teatro resultou em uma peça na qual eu fazia parte do elenco, fiquei em cartaz no Jorge Amado e depois de umas doses de sacanagens eu tomei trauma de teatro. Ou seria do grupo de teatro? Eis o mistério. No ano retrasado eu até fiz uma audição para entrar no mesmo grupo e obviamente passei, acontece que não dá pra mim. Olhar na cara de quem me sacaneou e sorrir já é o limite do meu senso de boa vizinhança. Inventei desculpas como carga horária de colégio, notas baixas – que não era o caso – e abortei o teatro. Já fiz curso de modelo e manequim. Mas eu sempre soube que com o meu físico de bolinho de queijo não iria a lugar algum, fui para o campo dos comerciais. Mas abortei o futuro nada promissor de modelo fotográfica. Eu já fiz natação e na hora do campeonato abortei. E foi assim, abortando convicções e adotando novas que cheguei onde estou. Agora me descobri na área de letras, não por escrever bem... Longe de mim. Sim porque eu tenho prazer em escrever, em dividir ideologias, em compartilhar partes de mim. Tenho muito prazer e pouca vergonha em expor o que eu penso. E eu chego ao objetivo desse post, porque eu não quero que esse blog termine como o ballet, a música e a natação. Perdidos em minha memória. (A música nem tanto. Respiro música.) Daí fica um agradecimento aos meus amigos que cobram posts pessoalmente, por MSN... É um estímulo nessa caminhada sem rumo divagando sobre o óbvio e o não tão óbvio. Que eu não aborte a convicção de que expor tudo o que eu penso é recapitular todas as minhas outras desistências e ter a certeza de que é assim que vou reforçando o meu caráter: abortando e adotando convicções.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Começo e fim: a crônica do óbvio.
Ponto final. O que seria um ponto final? Algo de extrema utilidade em redações, mas que na vida prática não possui sentido próprio. Não possui motivação. Ponto final é sinônimo de desespero, é sinônimo de alívio. É hipoteticamente extremista. Não há meio termo, é como se tudo que hoje é matéria virasse pó, cinza, nada. (Usando gradações de Gregório. HAHA.)
Essa resistência humana a entender, que extremos são perigosos, e que pontos finais não são o ápice da montanha, muito menos a ponta do abismo, é que torna o processo da vida mais doloroso. Chora-se o leite ao fim, comemora-se o início. Chora-se o início e comemora-se o fim. E a suposta harmonia se inicia com o fim de dilemas, ao passo que novos dilemas se formam.
É preciso entender que toda despedida tem um retalho da alegria da chegada, toda chegada tem um remorso da perda. Em cada decisão tomada há um pouco de você abandonando aquele espaço e outra parte ficando. Eu escolheria reticências. Misteriosas reticências retas e contínuas. Ou quem sabe o traçado curvilíneo de uma vírgula, que desenha o caminho sinuoso que trilhamos nesse processo apelidado de vida. Cada dia eu fico mais convicta de que pontos finais servem somente de pausa para os meus períodos incansáveis. Afinal: toda vez que parti eu ganhei algo, e perdi também. Porque os trilhos nunca possuem um fim.
Vivamos, sem os desesperos imediatistas e com a consciência de ganhos e perdas. Com a consciência dupla de que as coisas acontecem com um propósito. Vivamos com a certeza de que em cada trecho do passado há uma influência de pensamentos futuros. E o futuro é um reflexo de pensamentos passados. Vivamos cientes de que em cada retalho do início existe uma dosagem de fim. E em cada fim existe uma dosagem de início. A estrada é infinita, o caminho é árduo. O desespero não cabe. Não hoje, enquanto eu posso trocar gotículas brilhantes, por um fluorescente sorriso.
Essa resistência humana a entender, que extremos são perigosos, e que pontos finais não são o ápice da montanha, muito menos a ponta do abismo, é que torna o processo da vida mais doloroso. Chora-se o leite ao fim, comemora-se o início. Chora-se o início e comemora-se o fim. E a suposta harmonia se inicia com o fim de dilemas, ao passo que novos dilemas se formam.
É preciso entender que toda despedida tem um retalho da alegria da chegada, toda chegada tem um remorso da perda. Em cada decisão tomada há um pouco de você abandonando aquele espaço e outra parte ficando. Eu escolheria reticências. Misteriosas reticências retas e contínuas. Ou quem sabe o traçado curvilíneo de uma vírgula, que desenha o caminho sinuoso que trilhamos nesse processo apelidado de vida. Cada dia eu fico mais convicta de que pontos finais servem somente de pausa para os meus períodos incansáveis. Afinal: toda vez que parti eu ganhei algo, e perdi também. Porque os trilhos nunca possuem um fim.
Vivamos, sem os desesperos imediatistas e com a consciência de ganhos e perdas. Com a consciência dupla de que as coisas acontecem com um propósito. Vivamos com a certeza de que em cada trecho do passado há uma influência de pensamentos futuros. E o futuro é um reflexo de pensamentos passados. Vivamos cientes de que em cada retalho do início existe uma dosagem de fim. E em cada fim existe uma dosagem de início. A estrada é infinita, o caminho é árduo. O desespero não cabe. Não hoje, enquanto eu posso trocar gotículas brilhantes, por um fluorescente sorriso.
sábado, 12 de setembro de 2009
Uma singela homenagem.
Pra quem não sabe hoje o “Detesto Gente Inteligente” (blog do meu hermano Jorge, o bola 7.) está completando um aninho de vida, um aninho detestando gente inteligente com autenticidade e irreverência. E como eu não perco festa de criança, bolo, guaraná e docinho... Estou aqui fazendo uma singela homenagem pro meu irmãozinho. (Não era pra rimar, mas foi bom que combinou com o clima meigo e gentil.) Ou semi isso.
Não é porque é o blog do meu irmão, mas eu sou leitora compulsiva do DGI, daquelas que tem uma crise histérica quando vê algum post do tipo: “Hoje não tem.” Não tem minha caceta. Tem que ter. O problema é a grana? A gente forma uma vaquinha pra te pagar mensalmente, Jorge. Não chore. O pó de café não vai acabar, e cachaça você arruma fácil por aí com sua rede influente de amizades. (Pausa para risos.) Brincadeiras a parte, o único motivo do DGI fazer algum sucesso: é você. Você com a sua diarréia mental, estilingando posts cada vez melhores. Você com sua escrita concisa e suas piadas prontas. Você, você, você e você. O DGI é a personificação da tua mente semi-brilhante. (Pode me xingar, brodinho. Hoje ta liberado.) Enfim eu quero que saiba que o seu sucesso, é o meu sucesso... É o sucesso de quem lê aquela joça todo dia e se engasga com a asinha do frango na hora do almoço depois de uma crise histérica – e desnecessária – de risos. Obrigada por nos alegrar quando a vida parece uma merda. É uma sensação tão boa rir da desgraça alheia. Obrigada por nos brindar com seu ponto de vista. E obrigada por compartilhar posts brilhantes e idiossincráticos desde 2008. Parabéns DGI. Parabéns Jorge.
Não é porque é o blog do meu irmão, mas eu sou leitora compulsiva do DGI, daquelas que tem uma crise histérica quando vê algum post do tipo: “Hoje não tem.” Não tem minha caceta. Tem que ter. O problema é a grana? A gente forma uma vaquinha pra te pagar mensalmente, Jorge. Não chore. O pó de café não vai acabar, e cachaça você arruma fácil por aí com sua rede influente de amizades. (Pausa para risos.) Brincadeiras a parte, o único motivo do DGI fazer algum sucesso: é você. Você com a sua diarréia mental, estilingando posts cada vez melhores. Você com sua escrita concisa e suas piadas prontas. Você, você, você e você. O DGI é a personificação da tua mente semi-brilhante. (Pode me xingar, brodinho. Hoje ta liberado.) Enfim eu quero que saiba que o seu sucesso, é o meu sucesso... É o sucesso de quem lê aquela joça todo dia e se engasga com a asinha do frango na hora do almoço depois de uma crise histérica – e desnecessária – de risos. Obrigada por nos alegrar quando a vida parece uma merda. É uma sensação tão boa rir da desgraça alheia. Obrigada por nos brindar com seu ponto de vista. E obrigada por compartilhar posts brilhantes e idiossincráticos desde 2008. Parabéns DGI. Parabéns Jorge.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
The Resistance. Coisa linda de ouvir.
Depois de ouvir o novo CD do Muse e refletir durante tempos sobre como as músicas se encaixaram perfeitamente no contexto dos outros dois CDs, veio a pergunta típica: “Você acha que esse novo álbum supera o Black Holes and Revelations?” É o natural das pessoas. Comparar a última obra pra ver se eles continuam com a pegada e coisa e tal. Eu imagino que é assim também com as pessoas que acompanham os blogs da atualidade. A gente sempre avalia pra ver se tem coisa melhor vindo a caminho. Eu posso dizer com propriedade: O Muse não perdeu a pegada. O Muse seqüenciou uma saga. (muito bem, por sinal.) Eu confesso que baixei o CD aos pulos, e quando começou ‘Uprising’ eu quase cai da cadeira... Era mais do que eu podia esperar. Ou talvez fosse exatamente o que eu estava esperando. É difícil de dizer. Depois do orgasmo musical com a primeira faixa do álbum bateu aquele frio na barriga com ‘Resistance’ uma música bem característica do que a banda é em si. É o tipo de música que você espera quando conhece o histórico deles. (Pelo menos foi assim pra mim, mas opinião é algo individual.). Essa música dá uma suavizada na parada, malandro. Foi a música que mais me encantou. E depois com as inovações de ‘Undisclosed Desires’ eu não esperava mais nada. Absolutamente nada. Tudo se encaixava perfeitamente na atmosfera mítica criada por Matt Bellamy. O CD não segue uma sequência crescente e decrescente. Ele oscila de forma totalmente ousada. E quando você pensa que ouviu tudo o que a obra tem pra oferecer... Eles encerram com uma sinfonia ‘Exogenesis’ dividida em três partes. Putaquemepariuquecoisalinda.
Borboletas no estômago; o CD no repeat há 3 dias; meu novo vício. Eu ouvi e recomendo. Ressaltando novamente: gosto é que nem toba, meu amigo.
Borboletas no estômago; o CD no repeat há 3 dias; meu novo vício. Eu ouvi e recomendo. Ressaltando novamente: gosto é que nem toba, meu amigo.
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