Intacta Retina.
sábado, 6 de outubro de 2012
Eu fiz 18. E agora?
Depois de muito tempo distante da minha amabilidade com as palavras, cá estou eu mais uma vez dramatizando um dos grandes temas da minha vida no momento: minha consciência política. Eu sei que você provavelmente pensou que esse era um post sobre sexo, drogas rock’n’roll e experiências grupais com seres provenientes do planeta marte, mas não, esse não é o ponto, sinto desapontar. A questão, na verdade, é a minha grande procrastinação quanto ao dia 7 de outubro de 2012, o dia em que o estado brasileiro me obriga a votar, depois de dias alienada a um freak show chamado horário político. Venho adiando desde os 16 anos quando vozes inocentes me diziam “Vote! O voto é facultativo, mas você deve tomar decisões que ajudem o seu país, cidade, estado e as crianças na África!”. Eu não dei ouvido a nada disso, enquanto eu pudesse adiar eu não pensaria no assunto, até porque até os 18 era ilegal tomar vodka pra clarear os pensamentos. Infelizmente, dois anos passam num estalar de dedos e agora sou obrigada a construir uma base política pra encenar uma consciência de que estou fazendo a coisa certa, e fixar esse pensamento em minha cabeça, mesmo sabendo que eu faço parte dos 1% da população que pensa desta forma. Não, eu não faço parte desse percentual porque eu sou mais especial ou cheirosa do que o resto da população – a parte do cheirosa é um critério a ser discutido – eu faço parte disto porque é muito mais fácil colocar o bem pessoal acima dos interesses coletivos e num mundo capitalista individualista, pensar em unidade coletiva é quase um crime contra as bases econômicas e sociais em que vivemos. Como acreditar no esquerdista radical, no cara de direita que teve tudo na vida, no ladrão que se corrompe por um maço de dinheiro? Como acreditar em pessoas que usam o horário político como autopromoção, como uma forma de conseguir um emprego estável sem ter muito trabalho? Como acreditar em gente séria em um mundo fantasiado de piada? E o pior de tudo, como fazer gente séria e comprometida chegar ao poder, sendo que muitas vezes são estes os que menos recebem a atenção e intenção da população? Eu queria, neste momento desesperado, que o voto fosse facultativo, pelo menos eu poderia mais uma vez me isentar da palhaçada que é a concentração de poderes em nossa sociedade... Mas isso não seria omissão? Fechar meus olhos diante das desigualdades propostas entre os muros que separam os que muito tem dos que nada tem? Eu, sinceramente, não sei. Neste 7 de outubro eu voto pelo sonho, porque o meu ideal de realidade está longe de ser alcançado.
terça-feira, 18 de outubro de 2011
As marcas do meu conserto desconcertado.
Essa sinfonia muda que abrandou meus pensamentos nessa noite, um grito histérico sem voz, uma história sem palavras ou personagens... Apenas o vazio de um eu preenchendo lentamente o seu. Hematomas pelos braços em meio ao caos dos violinos que ligeiramente evocam uma dor guardada com uma estranha euforia que até mesmo desconhecia: a alegria manchada de dor. O graves baixos, marcando uma tal segurança que antes não tinha, ou apenas se escondia por entre minhas vestes estranhas, aquele corpo estranho que não era meu. Tudo desconcertado nesse concerto em que a sinfonia nem era minha, o maestro não era eu, os músicos eram conhecidos de algum lugar de promessas e tenebroso sol, lugar que eu mesma desconhecia. A música descompassada atravessava minhas artérias, tomava conta dos pensamentos que outrora eram meus. Essa sinfonia estranha guiou minha alma pra um buraco distante do meu corpo e os pés que tocavam o chão, as mãos que afagavam aquele cabelo, não eram minhas, eram desse alguém que se desvirtuou na batida de um violoncelo violado pelas mãos de outra pessoa. E quando o conjunto se calou, percebi a hora do meu solo... Voei por entre os instrumentos e além, alcancei o céu na noite, afaguei as estrelas... E no meio daquele som desconcertado de um concerto mal ensaiado fui imprimindo meu tom único proveniente das batidas de um coração agora acalmado pela razão de existir.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Uma nota sobre o Desdém.
Essa pequena coisa, inútil coisa que aflige os corações, o corpo, a alma. Uma doença degenerativa que vai secando tudo, até que a ultima flor em um jardim murche, até que a última palavra molhada seque. Esse pequeno grande monstro chamado desdém que se apossa de um coração que outrora foi gentil, que transforma em sombras os campos ensolarados por onde passa. E o que começou? Porque começou? Com o que começou? Antes era promessa, hoje já é pó que voa cada vez mais longe em um horizonte tão extenso que meus olhos pequenos não conseguem alcançar. Tua força tem essa capacidade? De desfazer as palavras, de trazer a tona o lado ruim das pessoas? Oh, Desdém eu nem sei porque, mas desde que vi tua face pela primeira vez, aprendi a não me espantar mais. E armo bem com meus planos o dia em que irei te dilacerar em carne viva, arrancar todos os seus membros até todo o mal se esvair. A ferida aberta em meu coração só pode ser estancada com o sangue teu, maldito Desdém.
quinta-feira, 10 de março de 2011
A cachola do poeta sem cabeça.
Destranca mil idéias em uma noite escura, abre a vaga caixa e expande em mel e luz o que antes era escuridão. Doce néctar das palavras escritas que afagam os dedos do pensador. Sem ter seus pés nas esquinas, seus olhos na lua, ou sua experiência catalogada em um imenso livro empoeirado, toca as notas alfabéticas do que nunca viveu. Fala do amor sem ter amado, conta da tristeza aos risos. Fala até de feridas, mas está cicatrizado. É a chave pro mundo imaginário, seu catalogo de emoções em uma explosão digna de Hiroshima. Pega a dor e a tristeza e cria angustia, soma a tristeza ao amor e cria a dúvida, traça dois discursos e cria o dúbio, alimenta o abismo. Sem ânsia, sem medo, sem dor. É a arte de fingir sentir. Se tiver medo? Os pássaros, cometas e pipas em sua cabeça são fadados as gaiolas, a escuridão das galáxias, as redes de eletricidade exposta...
O medo é o inimigo do poeta, é o catalisador do fim da poesia cotidiana. Tranca-se a vaidosa imaginação vestida em frevo e tango, lacra-se o além e o algo mais. Usurpa-se a liberdade dos versículos e das rimas e trancado na mesma noite escura, é apenas ele, a escuridão e o brilho gasto da lâmpada incandescente. E então o poeta que um dia foi poeta, não passará de uma lenda popular presa no sombrio imaginário infantil, trancafiado em suas próprias inseguranças, procurando alento na esperança do que já construiu.
P.s. : Textinho de merda, eu bem sei. Mas como faz tempo que não largo uma isquinha pros meus tubarões famintos, ai está. Deliciem-se. Nem só de maravilhas vive o homem. Beij.... Beijo é o caralho, fodam-se todos. Obrigada.
Com amor, mamãe.
O medo é o inimigo do poeta, é o catalisador do fim da poesia cotidiana. Tranca-se a vaidosa imaginação vestida em frevo e tango, lacra-se o além e o algo mais. Usurpa-se a liberdade dos versículos e das rimas e trancado na mesma noite escura, é apenas ele, a escuridão e o brilho gasto da lâmpada incandescente. E então o poeta que um dia foi poeta, não passará de uma lenda popular presa no sombrio imaginário infantil, trancafiado em suas próprias inseguranças, procurando alento na esperança do que já construiu.
P.s. : Textinho de merda, eu bem sei. Mas como faz tempo que não largo uma isquinha pros meus tubarões famintos, ai está. Deliciem-se. Nem só de maravilhas vive o homem. Beij.... Beijo é o caralho, fodam-se todos. Obrigada.
Com amor, mamãe.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Verdades sobre 2010.
Well... 2010 está chegando ao fim e o que eu posso dizer? Foi um ano especialmente difícil, trabalhoso, mas acima de tudo foi um ano de mudanças. Esse deve ser o discurso de muitas pessoas, eu sei disso, mas isso não me faz desacreditar no quão potenciais foram as mudanças que se sucederam durante os dias desse ano. Uma prova pragmática disso foi a minha ausência de posts esse ano, por descrença própria, por falta de motivação. Sobretudo um erro meu. E como nós sempre temos essa mania de repassar os erros, hein? (Olha eu fazendo isso, de novo.) Viver atribuindo nossas falhas às outras pessoas por um conforto momentâneo. Pode haver um motivo pra se desacreditar, mas a única pessoa capaz de acreditar ou não somos nós mesmos.
E o tempo é uma desgraça (peço perdão aos pudicos.) numa retrospectiva do que se passou eu lembro dos planos que fiz pra 2010. E bem, 2010 me deu um tiro nas costas, desses bem traiçoeiros. As dificuldades, os conflitos, foram muitos. E com o tempo você percebe que ganhou alguns amigos, mas que perdeu outros. Percebe que ganhou alguns valores, mas esqueceu de outros tão agregados a você. Daí então vem o grande baque: sua essência se modifica. Eu não sei bem sobre isso, descobri há uns 10 minutos atrás arrumando minhas malas pra viajar para o natal e o réveillon e olhando algumas roupas antigas. Roupas que eu jamais usaria hoje. E daí você percebe o quanto uma causa pode te deixar acomodada. Um trabalho, um relacionamento, um plano... Você descansa. Come mais, escreve menos, se importa menos, esquece mais. Mais, menos, mais! Qual foi o saldo final? Eu não consigo fazer o cálculo, mas talvez o resultado seja o seguinte: agregar valores pode ser ótimo... Esquecer quem você é? É um grande sinal de menos entrando pelo seu rabo sem você ao menos perceber. Daí você percebe que sua família está afastada, seus amigos permanecem nos mesmos lugares, mas outros já se foram e que bem, você ainda tem o seu parceiro que se encaixa no lote dos amigos que permaneceram ao seu lado.
Vamos brincar de sete erros? Os sete sou eu. Não é o destino, ou a tradição de números pares e impares que faz um ano ser bom. Todos os anos vem medíocres e nós é que trabalhamos em cima deles os tornando bons anos, ou maus anos. Eu permaneci estática, então consideremos 2010 um ano na média. Em cima das perdas tiveram os ganhos... Mas e se ainda em 2010 eu puder ganhar e recuperar o que perdi? Bem, eu não sei.
Escrever isso aqui já é um começo, ou talvez o fim. O fim porque a Manuella de um ano atrás continua aqui e quando eu me sento em frente ao computador pra escrever honestidades – e algumas desonestidades – eu tenho a plena consciência de que eu sou o cara com um copo de whisky na mão, eu sou dona do meu próximo ano e do finzinho deste que ainda está acontecendo. E eu continuo a mesma, só parei pra recesso. Pra poder aprender que certas coisas nunca mudam, mas outras tem que seguir em frente. Que venha o ano medíocre de 2011 e que eu possa trabalhar duro pra torná-lo legendário, não sozinha, mas sempre em boa companhia. Sem alarmes, sem surpresas, só seguindo em frente.
E o tempo é uma desgraça (peço perdão aos pudicos.) numa retrospectiva do que se passou eu lembro dos planos que fiz pra 2010. E bem, 2010 me deu um tiro nas costas, desses bem traiçoeiros. As dificuldades, os conflitos, foram muitos. E com o tempo você percebe que ganhou alguns amigos, mas que perdeu outros. Percebe que ganhou alguns valores, mas esqueceu de outros tão agregados a você. Daí então vem o grande baque: sua essência se modifica. Eu não sei bem sobre isso, descobri há uns 10 minutos atrás arrumando minhas malas pra viajar para o natal e o réveillon e olhando algumas roupas antigas. Roupas que eu jamais usaria hoje. E daí você percebe o quanto uma causa pode te deixar acomodada. Um trabalho, um relacionamento, um plano... Você descansa. Come mais, escreve menos, se importa menos, esquece mais. Mais, menos, mais! Qual foi o saldo final? Eu não consigo fazer o cálculo, mas talvez o resultado seja o seguinte: agregar valores pode ser ótimo... Esquecer quem você é? É um grande sinal de menos entrando pelo seu rabo sem você ao menos perceber. Daí você percebe que sua família está afastada, seus amigos permanecem nos mesmos lugares, mas outros já se foram e que bem, você ainda tem o seu parceiro que se encaixa no lote dos amigos que permaneceram ao seu lado.
Vamos brincar de sete erros? Os sete sou eu. Não é o destino, ou a tradição de números pares e impares que faz um ano ser bom. Todos os anos vem medíocres e nós é que trabalhamos em cima deles os tornando bons anos, ou maus anos. Eu permaneci estática, então consideremos 2010 um ano na média. Em cima das perdas tiveram os ganhos... Mas e se ainda em 2010 eu puder ganhar e recuperar o que perdi? Bem, eu não sei.
Escrever isso aqui já é um começo, ou talvez o fim. O fim porque a Manuella de um ano atrás continua aqui e quando eu me sento em frente ao computador pra escrever honestidades – e algumas desonestidades – eu tenho a plena consciência de que eu sou o cara com um copo de whisky na mão, eu sou dona do meu próximo ano e do finzinho deste que ainda está acontecendo. E eu continuo a mesma, só parei pra recesso. Pra poder aprender que certas coisas nunca mudam, mas outras tem que seguir em frente. Que venha o ano medíocre de 2011 e que eu possa trabalhar duro pra torná-lo legendário, não sozinha, mas sempre em boa companhia. Sem alarmes, sem surpresas, só seguindo em frente.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Um aninho chegando, hein?
Sem festa, sem bolo, sem língua de sogra. Estarei viajando daqui a três dias quando esta joça fizer um ano. Prometo que farei alguma coisa, mas estas são como minhas promessas de assiduidade neste blog e é época de eleição... Melhor não arriscar: feliz aniversário, intacta retina. Que você continue sendo esse reduto de merdas e pensamentos desconexos.
A rotina da dose.
- Ê gole ardente.
Bate o copo na mesa como bate na porta de casa, como bate a porta da geladeira, como jamais bateria a porta do seu carro zero na porta do bar. O veneno quente, voraz escorre pela garganta escoando pelo estômago, ecoando satisfação.
- Ê, sexta feira tacanha.
Estufa o peito se munindo de garrafa, copo e petiscos de quinta ou talvez da quinta-feira passada. Brada com o copo na mão, resmunga da semana, alivia toda a possível mágoa pungente num arroto. Estremece o chão, as bases, o mundo ao redor.
- Ê mudinho fedorento.
Toca o telefone, troca a roupa de vagabundo pela de advogado, junta os álibis, desmente os fatos, omite outros empunhando a sua principal arma: um copo de cerveja.
- E não diga que é qualquer um!
Um copo de cerveja gelado.
- Como?
Estupidamente gelado, se me permite a correção. Troca de copos, oscila bebidas como se fosse as roupas caras que sua mulher comprara. Aquela mesma que acreditou na reunião de trabalho enquanto o traía com um sócio da corporação. Troca de copo, sua mulher tira a roupa. Bebe um gole, sua mulher deixa que outro adentre seus limites em carne viva. Ele suspira, ela geme.
- Boa música, bom ambiente... Vê meu novo carro lá fora?
Que vida desencontrada, vazia... Ou talvez cheia das regalias dos cegos ostentadores.
- Deveriam me pagar por ser tão esperto.
Tola sociedade dos tolos modos, dos tolos homens, dos tolos rabos de saia desencantados. Maldita sociedade do sobe e desce mais uma caixa, mais uma mulher. Desce mais uma rodada que rode todo o mundo, pois o ciclo – aquele que não é da água, nem das plantas, nem da vida – este, não para. Ele só espera a próxima dose.
Bate o copo na mesa como bate na porta de casa, como bate a porta da geladeira, como jamais bateria a porta do seu carro zero na porta do bar. O veneno quente, voraz escorre pela garganta escoando pelo estômago, ecoando satisfação.
- Ê, sexta feira tacanha.
Estufa o peito se munindo de garrafa, copo e petiscos de quinta ou talvez da quinta-feira passada. Brada com o copo na mão, resmunga da semana, alivia toda a possível mágoa pungente num arroto. Estremece o chão, as bases, o mundo ao redor.
- Ê mudinho fedorento.
Toca o telefone, troca a roupa de vagabundo pela de advogado, junta os álibis, desmente os fatos, omite outros empunhando a sua principal arma: um copo de cerveja.
- E não diga que é qualquer um!
Um copo de cerveja gelado.
- Como?
Estupidamente gelado, se me permite a correção. Troca de copos, oscila bebidas como se fosse as roupas caras que sua mulher comprara. Aquela mesma que acreditou na reunião de trabalho enquanto o traía com um sócio da corporação. Troca de copo, sua mulher tira a roupa. Bebe um gole, sua mulher deixa que outro adentre seus limites em carne viva. Ele suspira, ela geme.
- Boa música, bom ambiente... Vê meu novo carro lá fora?
Que vida desencontrada, vazia... Ou talvez cheia das regalias dos cegos ostentadores.
- Deveriam me pagar por ser tão esperto.
Tola sociedade dos tolos modos, dos tolos homens, dos tolos rabos de saia desencantados. Maldita sociedade do sobe e desce mais uma caixa, mais uma mulher. Desce mais uma rodada que rode todo o mundo, pois o ciclo – aquele que não é da água, nem das plantas, nem da vida – este, não para. Ele só espera a próxima dose.
domingo, 18 de julho de 2010
Ferver e foder.
Maresia, maré, mar. Começo com essa gradação, pra falar de nada. Ou falar de algo. Presa na maresia, naquele velha maré de tédio, numa casinha beira mar. (Daí você inclui o detalhe de que o mar fica na verdade há algumas pistas da minha modesta casa de praia.) Estávamos eu e vovó – aquela velha espertinha e apaixonante que já foi citada como coadjuvante e personagem principal de algumas histórias desse blog - em um domingo natural, desses em que todo mundo vai embora porque tem trabalho na segunda e só sobramos nós, os donos do recinto. Sentadas de frente pra TV enquanto os outros dormiam, ficamos olhando a anfitriã do domingo. Estava passando Sherek e minha vó não parecia tão interessada, somente olhava de relance. Acabou o filme e começou o jogo. Era o Flamengo que iria jogar, e eu não estava nem um pouco a vontade de ver aqueles homens pra cima e pra baixo atrás de uma bola. Troquei de canal. Como o sinal da TV no finzinho do mundo é uma bosta, alem da globo só o SBT pegava bem. Respirei fundo, paciente... E uma surpresa. Surpresa com ponto de seguimento mesmo, caro leitor (a). Estava passando cobertura ao vivo do Salvador Fest. Você não sabe o que é? Vem cá que eu explico, é assim: um bando de brau – brau mesmo, mané – se junta num parque grande da cidade, com direito a muito pagode, camisa colorida sacanagem e kolene no ar. Sim, transmissão ao vivo. Eu não acreditei.
Não sei o que ocorreu que Sir Durval Lelys, vocalista do Asa de Águia – bandinha presente em todas as festinhas dos filhinhos de papai e agregados da cidade – marcou presença no meio da muvuca. Eu achei interessante, intrigante. Parei minha atenção enquanto ele cantava um dos clássicos do carnaval baiano “bota pra ferver”. Essa é uma daquelas músicas chiclete, sabe? E chiclete modificado pelo povo, não conheço uma pessoa que não cante “bota pra foder”. Eu não canto e sem perceber comecei a acompanhar:
- Mas a vida, bota pra foder.
E continuei, só que mais alto:
- BOTA PRA FODER! BOTA PRA FODER!
Minha avó ao lado, balançando as perninhas, largou:
- É ferver.
- Oxe, é foder, minha avó!
- Mas ele ta cantando ferver!
- Você já viu alguém cantando ferver? Não importa o que ele canta.
Silêncio. Riso comprimido. Silêncio.
- Oh, minha avó, mas e a vida? Ela não bota pra foder com a gente?
- Naaaada! Ela bota pra ferver.
- E não fode, vó?
- Só ferve.
- Só ferve? A vida é muito escrota, vó.
- Claro. Se botasse pra foder, eu estaria mal. Eu agradeço a vida, ela sempre foi boa comigo.
- Mas quem disse que foder é ruim?
- E não é?
- Foder pode ser de tipo: Que massa, de lenhar! Ou pode ser de tipo: coisa ruim, to na merda.
- Você tem razão. Ferve e fode.
E tudo o que separa palavras são as suas diversas interpretações.
Não sei o que ocorreu que Sir Durval Lelys, vocalista do Asa de Águia – bandinha presente em todas as festinhas dos filhinhos de papai e agregados da cidade – marcou presença no meio da muvuca. Eu achei interessante, intrigante. Parei minha atenção enquanto ele cantava um dos clássicos do carnaval baiano “bota pra ferver”. Essa é uma daquelas músicas chiclete, sabe? E chiclete modificado pelo povo, não conheço uma pessoa que não cante “bota pra foder”. Eu não canto e sem perceber comecei a acompanhar:
- Mas a vida, bota pra foder.
E continuei, só que mais alto:
- BOTA PRA FODER! BOTA PRA FODER!
Minha avó ao lado, balançando as perninhas, largou:
- É ferver.
- Oxe, é foder, minha avó!
- Mas ele ta cantando ferver!
- Você já viu alguém cantando ferver? Não importa o que ele canta.
Silêncio. Riso comprimido. Silêncio.
- Oh, minha avó, mas e a vida? Ela não bota pra foder com a gente?
- Naaaada! Ela bota pra ferver.
- E não fode, vó?
- Só ferve.
- Só ferve? A vida é muito escrota, vó.
- Claro. Se botasse pra foder, eu estaria mal. Eu agradeço a vida, ela sempre foi boa comigo.
- Mas quem disse que foder é ruim?
- E não é?
- Foder pode ser de tipo: Que massa, de lenhar! Ou pode ser de tipo: coisa ruim, to na merda.
- Você tem razão. Ferve e fode.
E tudo o que separa palavras são as suas diversas interpretações.
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